quarta-feira, 9 de setembro de 2009

PERIGOS SOBRE EXCESSOS NA ALIMENTAÇÃO DOS EQUINOS

Um Programa de Nutrição deve ser adequado à função desenvolvida pelo eqüino e à categoria à qual ele pertence.
Quando tratamos da alimentação dos cavalos, os nutrientes com os quais devemos nos preocupar são os Carboidratos e Lipídeos que suprem as necessidades energéticas, a Proteína que oferece os aminoácidos de que o animal necessita, os Minerais, que podem ser macro-elementos, envolvidos com a estrutura do animal e são perdidos diariamente durante o desempenho de suas atividades (Cálcio, Fósforo, Sódio, Cloro, Potássio, Magnésio, Enxofre) ou os micro-elementos, envolvidos, principalmente, com as funções metabólicas dos animais. (Ferro, Iodo, Cobre, Flúor, Manganês, Molibdênio, Zinco, Cobalto, Selênio, Cromo), além, é claro, das Vitaminas, que podem ser hidrossolúveis (Complexo B e Vitamina C) e lipossolúveis (Vitaminas A, D, E e K).
Conforme a categoria do animal, quer seja animais de lazer, trabalho, crescimento ou reprodução, existem necessidades específicas que devem ser respeitadas quando do oferecimento do alimento ao animal.
Para se suprir as necessidades mínimas de cada animal, verde (feno, silagem ou capim fresco) de boa qualidade à vontade, sal mineral específico e água limpa e fresca à vontade, complementados com uma ração de boa qualidade (baixa proteína e baixa energia) podem ser suficientes para atender a demanda.
Entretanto, muitas vezes queremos oferecer aquele algo a mais aos nossos animais, querendo que eles cresçam e se desenvolvam bem, as éguas tenham uma gestação e lactação tranqüilas e que nosso cavalo de trabalho ou esporte tenha o máximo de desempenho possível.
Devemos sempre tomar muito cuidado quando se oferecer suplementos à dieta normal, pois excessos podem ser tão prejudiciais, ou mais, quanto às deficiências. Inclusive, dependendo do nutriente, o sintoma de excesso é o mesmo da carência, dificultando ainda mais o diagnóstico.
Deve-se ressaltar que os excessos são muito prejudiciais ao bom desempenho do animal, contrário ao que muitos pensam, onde se calcula que se um é bom, dois é duas vezes melhor.
O que não quer dizer que o animal não necessite de suplementos, mas sim que estes devem ser oferecidos com critérios, e não indiscriminadamente, através de sugestão de um profissional capacitado (que nem sempre é o amigo que dá a dica). Lembre-se, acima de tudo, que o que é bom para um animal, não é necessariamente o indicado para outro.
ENERGIA
Deve ser suficiente para suprir a demanda do animal. Animais de lazer e passeio, não devem ter a mesma alimentação de um animal de competição, ou mesmo de uma égua em reprodução ou potro em crescimento.
Excessos energéticos levam à obesidade com diminuição da performance esportiva, reprodutiva e prejudicam o crescimento.
Em garanhões há comprometimento da fertilidade. Ocorre diminuição do nível hormonal e da libido. Uma égua em reprodução deve ganhar aproximadamente 13%  de seu peso durante a gestação (65 kg para uma égua de 500 kg), sendo 10% no terço final da gestação.
Devemos ter cuidados com uma superalimentação que pode acarretar problemas graves e importantes, devido ao excesso de gordura da mãe e do feto:
  1. Dificuldades no parto (ruptura das artérias uterinas, bloqueio da saída do feto devido ao tamanho deste) e diversas complicações associadas (retenção de placenta, metrite)
  2. Nascimento de um potro frágil que sofreu durante o parto (anóxia)
  3. Limitação do aumento necessário do consumo voluntário de alimento no início da lactação, que limita a produção leiteira e agrava a queda do balanço energético.
A criação de um potro visa produzir um animal muito bem desenvolvido em termos ósseos e musculares, sem acúmulo de gorduras de reserva. Devemos procurar um crescimento ótimo e não  máximo como em um animal de abate. Além disso, oferta exagerada de energia nesta fase pode levar a problemas de Doenças Ortopédicas Desenvolvimentares, como a Epifisíte.
Rações muito ricas em energia, como com cereais com 60-70% de amido acarretam enormes problemas. O intestino delgado não pode digerir todo o amido contido nos cereais; é o intestino grosso que recupera o excesso com as seguintes complicações: Fermentações Microbianas, Timpanismo / Formação de Gases, Diarréia / Queda do Tônus Digestivo, Dilatação do Ceco, Cólicas, Degeneração Cardíaca, Hepática e Renal, Dismicrobismo (alteração da Flora Intestinal) e Laminite (Aguamento).
Além disso, o excesso de ácidos graxos essenciais (energia) na alimentação impede a absorção normal de Magnésio, mineral responsável pelo relaxamento da musculatura. Portanto, em dietas muito energéticas para animais que não necessitem de tanta energia, haverá indisponibilidade de Magnésio, dificultando o relaxamento da musculatura deste animal. ”Trava” a musculatura do animal.
PROTEÍNA
Muitos proprietários e criadores de cavalos ainda pensam que alimento bom é rico em proteína. O animal tem necessidades protéicas bem específicas e que devem  ser respeitadas.
Querer aumentar a massa muscular de um animal através do uso de proteína tem um fator limitante muito forte: a Genética. Se esta não for adequada, não adianta oferecer mais proteína ou mesmo aminoácidos (parte da proteína) que o animal não deverá ganhar músculos além daquele que sua genética permitir.
Além disso, os excessos de proteína na dieta causam Aumento da Flora Patogênica no Intestino Grosso, com conseqüente: Enterotoxemia, Problemas Hepáticos, Emagrecimento, Problemas Renais, Má Recuperação após o Esforço, Transpiração Excessiva (perdas excessivas de Eletrólitos), Cólicas e Timpanismo, Dismicrobismo (alteração da Flora Intestinal) podendo levar a quadros de Laminite (Aguamento).
MINERAIS
Existe uma interação entre os elementos minerais, e se houver um excesso de um único elemento mineral, podemos ter uma síndrome chamada de carência induzida, onde o excesso de um elemento mineral, causa a deficiência de outro elemento, mesmo que esse outro elemento esteja em quantidade adequada na dieta. O de excesso de Selênio pode causar problemas nos cascos por prejudicar a absorção de enxofre, fundamental para a constituição de aminoácidos sulfurados integrantes da formação córnea. Além disso pode ocorrer anemia, inquietação, perda de peso, queda do pêlo da cauda e crina, fezes fluidas escuras. O excesso de Ferro prejudica a absorção de zinco e cobre, em detrimento da solidez óssea, prejudica a produção de hemoglobina e a elasticidade dos tendões. O aumento da taxa sangüínea de  ferro acelera a utilização da vitamina E e predispõe a lesões musculares. O excesso de Potássio é muito perigoso; ele induz a uma grande fadiga muscular e pode levar a problemas cardíacos. Devemos tomar muito cuidado com uma alimentação muito rica em melaço, pois este é rico em potássio. O excesso de Cálcio predispõe o animal às Doenças Ortopédicas Desenvolvimentares. Prejudica a absorção de Zinco e Manganês. Aumenta a densidade óssea. O excesso de Fósforo leva à deficiência de cálcio,  tendo como sintoma mais clássico a cara inchada. O excesso de Sódio, através do oferecimento de sal sem disponibilidade de água, pode levar a quadros de cólicas, diarréia, fraqueza e paralisia do posterior. Excesso de cobre leva a anemia hemolítica aguda, icterícia, com danos hepáticos e renais e morte. Excesso de Zinco predispõe a Doenças Ortopédicas Desenvolvimentares, rigidez e claudicação. O excesso de Cobalto tem o mesmo sintoma de sua deficiência, isto é, deficiência de vitamina B12.
VITAMINAS
Existem diversas situações em que o cavalo pode se beneficiar de uma suplementação extra de vitaminas, tais como animais submetidos a stress (transporte, exposição, competição), animais nervosos, animais em treinamento ou atividade física prolongada, animais debilitados ou anêmicos.
Porém, mesmo nestes casos, deve-se observar a quantidade diária necessária para suprir estas necessidades extras, para não se ter surpresas desagradáveis.
O excesso de Vitamina A pode causar fragilidade óssea, descamação da pele, aumento do tempo de coagulação sangüínea, o que pode resultar em hemorragia interna.
A toxicose por excesso de Vitamina D é a mais comum pela utilização de alimentos inapropriadamente enriquecidos com esta vitamina. Ela estimula a absorção de cálcio e fósforo, promovendo uma deposição excessiva de cálcio em vários tecidos, como coração, parede de vasos sangüíneos, rins e diafragma. Leva a uma queda no desempenho do animal, perda de peso ou diminuição da taxa de crescimento, rigidez de tendões e ligamentos, aumento da freqüência cardíaca, etc.
OUTROS EXCESSOS
Hoje em dia está muito na moda a administração de vários tipos de nutrientes aos animais visando um aumento da performance, principalmente atlética.
Entretanto, mais do que estar na moda, não há evidência científica alguma que comprove a eficácia de se adicionar este ou aquele nutriente à dieta do animal.
Seus excessos ainda não estão comprovados como tóxicos, exceto por poderem sobrecarregar os rins, porém sua eficácia também não está comprovada. Sua toxicidade comprovada se dá muita mais em relação aos custos, pois são produtos caros sem eficiência comprovada.
Nesta categoria situam-se principalmente os suplementos de aminoácidos, tais como:
Creatina:
É derivada de Glicina, Arginina e Metionina. O aumento da concentração de creatina no músculo esquelético resulta em um incremento de energia, aumenta a síntese protéica e massa muscular, com aumento da performance atlética. Os Aminoácidos que constituem a creatina estão normalmente presentes em uma dieta equilibrada, onde deverá haver uma formação adequada da quantidade de creatina necessária ao organismo. Não há comprovação que sua suplementação direta aumente sua quantidade no músculo. Além disso, o incremento de energia originário do uso da creatina se dá apenas na fase anaeróbica do exercício, nos primeiros 40-60 segundos do início do exercício, portanto, tem duração extremamente curta.
Carnitina
A Carnitina é um aminoácido derivado da Lisina e Metionina, encontradas normalmente em uma alimentação equilibrada. O processo aeróbico ocorre dentro da mitocôndria, o anaeróbico acontece no citoplasma. A membrana mitocondrial não é permeável ao ácido graxo, diferente do sarcolema, que o é.  A carnitina é o aminoácido responsável por levar o ácido graxo para dentro da mitocôndria, disponibilizando mais energia para a célula. Também não há comprovação de elevação da performance esportiva ao se administrar carnitina extra ao animal
BCAA (Branched-chain amino acid)
Composto por Leucina + Valina + Isoleucina.
Diminui efeito fadiga (estimula o Triptofano) e minimiza a degradação protéica.
Sem comprovação da eficácia.
Aminoácidos em Geral
Evidências Clínicas demonstram que certos aminoácidos (Arginina, Histidina, Lisina, Metionina, Ornitina, Fenilalanina) podem estimular a liberação de hormônios do crescimento, insulina, glicocorticóides e promover processos anabólicos.
               
Entretanto, há poucas evidências que a suplementação extra destes aminoácidos promovem melhora na performance atlética.
Outros Suplementos:
Complexo B
As vitaminas do complexo B estão relacionadas com todas as reações metabólicas, proteção hepática e cutânea e elaboração da Hemoglobina. Muito utilizado por animais Puro Sangue Inglês, sem, entretanto ter evidências reais que sua suplementação extra melhore a atividade atlética. Entretanto, muitos o recomendam preventivamente.
DMG (Dimetil-Glicina)
A dimetilglicine, um intermediário normal no metabolismo da colina (componente importantíssimo no metabolismo energético) é uma substância controversa. A DMG pode aumentar utilização de oxigênio e por meio disso diminuir níveis de ácido láctico em animais sob extremo stress, sendo responsável por um nível de ácido láctico sanguíneo mais baixo depois do treinamento. Em estudos nos EUA, com animais de corrida observou-se menor agressividade, apetites e atitudes melhores e para melhor recuperação após competição e treinanamento do que o grupo de controle estudado. Um outro efeito de DMG no sistema animal é um realce de mecanismos imunes. Deve-se ressaltar que os benefícios da suplementação extra com DMG não estão bem definidos, necessitando de maiores estudos.
               
Cromo
O Cromo é utilizado pelos atletas para desenvolver a musculatura e reduzir a gordura corporal, eleva a atividade de insulina,  e melhora a resposta do sistema imune.  Entretanto, não está comprovado que a ingestão de níveis extras de cromo melhora a performance do animal.
CONCLUSÃO
Claro está que para se obter o máximo de performance de um animal deve-se partir de uma alimentação básica equilibrada.
Conforme a atividade física do animal, devemos incrementar esta alimentação e adequá-la às reais necessidades do cavalo, e não de seu dono.
Existem inúmeros suplementos disponíveis no mercado. A grande maioria extremamente benéfica ao desempenho do cavalo, se bem aplicada.
Deve-se sempre consultar um técnico especializado para saber o que mais se adapta às suas necessidades para podermos extrair o máximo de cada animal.
Lembre-se, entretanto, que existem variações individuais tais como raça, temperamento, digestibilidade individual, clima, estado geral do animal, além, é claro, da genética que limitam e delimitam o uso de qualquer suplemento para aumentar o desempenho do seu cavalo.
André Galvão Cintra
MV, Prof. Esp.
Presidente Associação Brasileira de Criadores do Cavalo Bretão

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